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Divulgação Científica
1. Participação dos pais em procedimentos dolorosos em neonatos reduz ansiedade parental
Estudo
realizado no Reino Unido apontou redução de
ansiedade de pais ao oferecerem toque suave
aos filhos neonatos, durante procedimento
doloroso, e maior presença de sentimentos
positivos como tranquilização, calma e
utilidade. A ansiedade dos pais foi
mensurada por meio do uso de um instrumento
específico, além disso, os sentimentos dos
pais em relação à pesquisa e ao conforto
oferecidos aos filhos foram verificados por
um questionário anônimo. O objetivo foi
explorar a ansiedade e angústia dos pais e a
experiência dos pais enquanto participavam
da pesquisa sobre efeito do toque parental
na dor neonatal. O estudo verificou maior
presença de sentimentos positivos e menor
ansiedade parental quando incluída a
participação dos pais em procedimentos
dolorosos em bebês.
A amostra da
pesquisa foi composta de 106 díades
pais-bebês e o toque parental foi feito
durante uma punção no calcanhar dos bebês.
Os pais foram instruídos por uma animação
exibida em uma tela e acariciaram a perna
dos filhos por 10 segundos, no grupo
intervenção os pais acariciaram os bebês
antes da punção e no grupo de intervenção os
pais realizaram o toque logo após. Ademais,
o instrumento utilizado para mensurar a
ansiedade parental foi o State Trait Anxiety
Inventory (STAI-S) e as outras experiências
dos cuidadores foram verificadas por meio de
um questionário anônimo que questionava a
opinião sobre a importância da participação
do estudo, sentimentos sentidos e
possibilidade de nova participação em outros
estudos.
O estudo
ressalta a importância da inclusão dos pais
em pesquisas relacionadas à dor neonatal e a
relevância da compreensão das suas
experiências na provisão do alívio da dor.
Referências:
van der Vaart M, Hauck AGV, Mansfield R,
Adams E, Bhatt A, Cobo MM, Crankshaw D,
Dhami A, Hartley C, Monk V, Evans Fry R,
Moultrie F, Robinson S, Yong J, Poorun R,
Baxter L, Slater R. Parental experience of
neonatal pain research while participating
in the Parental touch trial (Petal). Pain.
2024 Aug 1;165(8):1727-1734. doi: 10.1097/j.pain.0000000000003177.
Epub 2024 Jan 25. PMID: 38284396; PMCID:
PMC11247449.
Escrito por
Ana Carolina Teles Marçal.
2. A dor na gravidez e no pós-parto
Estudo avalia
a presença de dor crônica durante a gravidez
e demonstra trajetórias distintas de
intensidade da dor, catastrofização da dor e
interferência da dor desde o início da
gravidez até o pós-parto. A Fundação de
Pesquisa do Hospital Infantil de Alberta em
conjunto com o Instituto de Pesquisa do
Hospital Infantil de Alberta, pelo programa
Canada Research Chair apoiaram essa pesquisa
em que mulheres grávidas foram avaliadas em
quatro momentos, sendo três momentos ainda
durante a gravidez e um momento no
pós-parto, para a coleta de preditores
sociodemográficos e medidas relacionadas a
dor; as quais posteriormente sofreram uma
análise estatística. Isso porque esse estudo
buscou identificar mulheres com alto risco
de apresentar sintomas de dor durante a
gravidez e assim, tornar possível a criação
de estratégias de gerenciamento direcionadas
a evitar que as mães desenvolvam dor crônica
durante a gravidez e no período pós-parto.
Essa pesquisa
utilizou modelos mistos para fazer a análise
estatística das medidas de intensidade,
catastrofização e interferência da dor para
então, realizar uma análise da trajetória
dessas dores ao longo do tempo; além da
análise também de índices de insônia,
ansiedade, depressão pós-parto e análise
sociodemográfica, visto que mulheres com
piores sintomas de dor são mais propensas a
relatar sintomas psicológicos durante o
período perinatal, o que pode afetar os
resultados do trabalho de parto e pós-parto.
Tais medidas foram obtidas a partir da
resposta de formulários e escalas das 142
mulheres grávidas que participaram dessa
pesquisa. Elas completaram a primeira
pesquisa antes da 20ª semana de gestação e
foram reavaliadas a cada 10 semanas; sendo
assim, as pesquisas foram concluídas em
média com 15 semanas, 25 semanas e 35
semanas de gestação e com 6 semanas após o
parto. No entanto, atribuir valor objetivo à
dor subjetiva, o tamanho da amostra, a falta
de um relato de histórico de dor e registro
do local da dor e se a grávida fez o uso de
analgésicos e quais, caracterizam-se como
limitadores para esse trabalho exploratório.
Logo, devido
às mudanças na sensação de dor na mulher
grávida ao longo do tempo, ou seja, desde a
gravidez até o pós-parto, a replicação do
presente estudo em amostras mais diversas e
com mais detalhamentos é uma importante
consideração para futuras pesquisas.
Ademais, destaca-se a prevalência da dor
durante a gravidez e reforça a necessidade
de criar estratégias de gerenciamento que
avaliem e tratem regularmente da dor como
parte da gravidez e dos cuidados pós-natais.
Referência:
Jessa, J., Tomfohr-Madsen, L., Dhillon, A.,
Walker, A., Noel, M., Sedov, I., & Miller,
J. V. (2024). Trajectories of pain intensity,
pain catastrophizing, and pain interference
in the perinatal and postpartum period. Pain
reports, 9(2), e1137. https://doi.org/10.1097/PR9.0000000000001137 Escrito por Leticia Santos Almeida.
3. Como a diferença de sexo reage a diferentes estímulos dolorosos
Diferentes
estímulos dolorosos como frio e calor podem
ter reações diferentes de acordo com o
gênero. Um estudo feito no Canadá analisou
em camundongos como a diferença de sexo pode
estar relacionado ao comportamento sensorial
em situações de estimulação dolorosa como
mecânica, calor e frio. Com o objetivo de
uma compreensão mais profunda sobre os
mecanismos específicos que estão
relacionados com a dor. Para a análise foi
utilizado um método quantitativo que se
baseia na prevenção de conflitos. Foi
observado que existe uma relação entre o
sexo e à reação a dor. Para os camundongos
que não sofreram a cirurgia, os machos
demonstraram uma aversão maior ao frio se
comparada com as fêmeas e eles são menos
sensíveis a estímulos mecânicos, já no caso
dos que sofreram a lesão nervosa às fêmeas
sentiram uma grande aversão ao frio
indicando que pode estar relacionado ao gene
CGRPa. Esse achado condiz com uma descoberta
em voluntários humanos que demonstrou que as
mulheres exibem uma maior hipersensibilidade
ao frio.
No estudo
foram utilizados camundongos que
inicialmente foram submetidos a um protocolo
de treinamento por 4 dias sem a presença dos
estímulos dolorosos, onde eles foram
ambientados à sala que posteriormente seria
usada para os testes. Alguns dos camundongos
foram submetidos a uma pequena cirurgia de
lesão nervosa para uma medição mais precisa
durante os testes sensoriais e uma
comparação com aqueles camundongos que não
sofreram este procedimento.
Referência:
Ferland, S., Wang, F., De Koninck, Y., &
Ferrini, F. (2024). An improved conflict
avoidance assay reveals modality-specific
differences in pain hypersensitivity across
sexes. Pain, 165(6), 1304–1316. https://doi.org/10.1097/j.pain.0000000000003132
Escrito por Luana Júlia Faria Gonçalves.
4. Experiência da dor no parto pode influenciar o tempo de amamentação
Estudo de
pesquisadores de Cingapura mostra que
mulheres que vivenciaram maior dor durante o
parto têm maior propensão a interromper mais
cedo a amamentação. A amamentação é
recomendada pela Organização Mundial da
Saúde (OMS) como prática exclusiva até os
seis meses de idade do bebê e complementar
até dois anos. Entretanto, inúmeros fatores
podem levar a interrupção prematura da
amamentação. Diante dessa perspectiva, entre
2017 e 2021, uma pesquisa clínica foi
conduzida para analisar como diversos
fatores podem influenciar a interrupção da
amamentação, incluindo a experiência da dor
durante o parto.
A pesquisa
analisou dados de 813 mulheres que deram à
luz em um hospital terciário. Dentre essas
participantes, 23,2% interromperam a
amamentação entre seis e dez semanas
pós-parto. A análise multivariada avaliou
possíveis fatores que estariam associados à
interrupção precoce da amamentação. Os
resultados mostraram que um nível
educacional mais baixo, presença de
diabetes, complicações obstétricas, indução
do trabalho de parto com ocitocina e maior
intensidade da dor do parto, são associados
fatores associados à interrupção precoce da
amamentação. Mulheres que relataram maior
dor durante o parto apresentaram maior
propensão a interromper a amamentação. Além
disso, o estudo destacou que o uso de
ocitocina sintética pode interferir na
liberação natural do hormônio pós-parto,
comprometendo a produção e a ejeção do
leite, impactando diretamente a amamentação.
Dessa forma,
os resultados indicam que a dor mais intensa
no parto pode impactar a amamentação. A
pesquisa reforça a importância do manejo
eficaz da dor durante o trabalho de parto,
aliado a um suporte contínuo às mães no
período pós-parto, para promover maiores
taxas de aleitamento materno prolongado.
Referência:
Ayuby NA, Ang MQ, Sultana R, Tan CW, Sng BL.
Investigating the association between labor
pain and cessation of breastfeeding. Sci Rep.
2024;14:31361. doi:10.1038/s41598-024-82850-5
Escrito por Gabrielle de Abreu Barreto.
5. A relação entre a idade da menopausa e a dor crônica
Pesquisadores da Universidade de Oslo, Noruega, demostraram que a menopausa precoce está relacionada a uma maior prevalência de dor crônica em mulheres na pós-menopausa. O sexo feminino é um fator de risco para dor crônica, mas os mecanismos envolvidos não são totalmente compreendidos. Os pesquisadores coletaram dados do estudo Tromsø, conduzido na Noruega entre 2015 e 2016, com o objetivo de investigar a relação entre a idade de início da menopausa e a idade de início da vida reprodutiva, com a ocorrência de dor crônica em mulheres na pós-menopausa.
Participaram do estudo mulheres na pós-menopausa com idade entre 40 e 93 anos em uma amostra de 5741 participantes. Foram avaliadas a dor crônica e a dor crônica generalizada, e foram calculadas as razões de risco relativo para determinar associações. O estudo mostrou que a menopausa precoce, natural ou induzida, foi associada a um aumento de 1% na prevalência de dor crônica para cada ano de início mais precoce na menopausa. Já a idade de vida reprodutiva não teve impacto na prevalência de dor crônica.
Em conclusão, as descobertas sugerem que a menopausa precoce está relacionada a uma maior prevalência de dor crônica em mulheres na pós-menopausa. Esses dados reforçam a hipótese de que os hormônios sexuais femininos têm envolvimento com o desenvolvimento de dor crônica nas mulheres.
Referência: Lund, C. I., Rosseland, L. A., Steingrímsdóttir, Ó. A., Engdahl, B. L., Stubhaug, A., Furberg, A. S., & Nielsen, C. S. (2025). How is age at menopause and reproductive lifespan associated with chronic pain outcomes in postmenopausal women? Pain, 166(1), 144–152. https://doi.org/10.1097/j.pain.0000000000003333
Escrito por Maria de Fátima Santana de
Souza Guerra.
6. Neuroprótese vestível restaura sensibilidade nos pés de pacientes com neuropatia periférica Pesquisadores
do Instituto de Neuroengenharia da ETH
Zurique, na Suíça, desenvolveram uma
neuroprótese vestível (NeuroStep), que
restaura parcialmente a sensibilidade nos
pés de pacientes com neuropatia periférica.
O estudo clínico foi realizado entre 2021 e
2023, e testou o dispositivo em 14 pacientes
que apresentavam dor e redução de
sensibilidade nos pés. A neuroprótese
utiliza estimulação elétrica não invasiva
para reativar as sensações nos pés, e pode
representar uma alternativa inovadora ao
tratamento da neuropatia.
A NeuroStep é
composta por palmilhas sensíveis à pressão,
uma meia com eletrodos e um controlador que
ajusta a estimulação elétrica em tempo real.
Cada participante do estudo passou por um
processo de calibração personalizada para
garantir uma estimulação eficaz e
confortável. Testes funcionais e
questionários indicaram melhora no
equilíbrio e na locomoção, recuperação de
27% da área com perda de sensibilidade, e
redução de 30,4% na dor, com alívio de
sintomas como queimação e dor paroxística em
24 horas de uso. Exames de ressonância
magnética funcional confirmaram a ativação
do córtex somatossensorial, evidenciando o
processamento das sensações restauradas.
A NeuroStep
foi eficaz na restauração parcial da
sensibilidade, redução da dor e melhora da
mobilidade em pacientes com neuropatia
periférica. Apesar dos resultados
promissores, o estudo teve uma amostra
pequena e avaliou apenas efeitos de curto
prazo. Pesquisas futuras serão necessárias
para validar a eficácia do dispositivo a
longo prazo e ampliar as evidências de
benefícios clínicos.
Referência:
Gozzi N, Chee L, Odermatt I, et al. Wearable
non-invasive neuroprosthesis for targeted
sensory restoration in neuropathy. Nat
Commun. 2024;15(1):10840. Published 2024 Dec
30. doi:10.1038/s41467-024-55152-7 Escrito por Anna Beatriz Oliveira Cruz.
7. Técnicas de realidade estendida reduzem a dor do membro fantasma
Estudo clínico multicêntrico realizado na Europa, Canadá e Estados Unidos demonstrou que o uso de técnicas de realidade estendida alivia a dor crônica do membro fantasma. A dor do membro fantasma é um tipo de dor neuropática percebida no membro ausente, comumente experienciada por indivíduos amputados, e resistente aos tratamentos convencionais. Recentemente, o potencial de técnicas de realidade estendida (RE) para tratar dor crônica tem sido demonstrado. RE combina elementos do mundo real com o virtual, e abrange realidade aumentada e realidade virtual. Os pesquisadores conduziram um estudo clínico para comparar os efeitos de dois tipos de tratamento envolvendo RE sobre a dor do membro fantasma.
O estudo comparou dois grupos experimentais. Um grupo recebeu o tratamento de execução motora, no qual os participantes movimentavam o coto da amputação, no qual eletrodos captam a atividade mioelétrica local, que era decodificada em tempo real promovendo a movimentação do membro no ambiente virtual. O outro grupo recebeu o tratamento de imaginação, onde os participantes deveriam apenas imaginar o movimento do coto, enquanto observavam os movimentos automáticos do membro no ambiente virtual. O tratamento teve duração de 15 sessões e ao final de cada encontro, o Índice de Classificação de Dor foi avaliado. Foram realizadas entrevistas de acompanhamento em 1, 3 e 6 meses após o término do tratamento, com o objetivo de analisar a duração dos efeitos. Ambos os tratamentos tiveram uma eficácia equivalente, reduzindo cerca de 65% a dor no membro fantasma, sendo esses efeitos mantidos mesmo após o encerramento das sessões de tratamento.
Em conclusão, os resultados obtidos sugerem que procedimentos de realidade estendida oferecem alívio significativo da dor no membro fantasma, melhorando a qualidade de vida dos indivíduos. Não foram relatados efeitos adversos, demonstrando uma vantagem frente aos tratamentos farmacológicos. Entretanto, mais estudos são necessários para desvendar os mecanismos envolvidos na modulação da dor.
Referência: Lendaro E, Van der Sluis CK, Hermansson L, et al. Extended reality used in the treatment of phantom limb pain: a multicenter, double-blind, randomized controlled trial. Pain. 2025;166(3):571-586. doi:10.1097/j.pain.0000000000003384
Escrito por Ana Carolina Lucchese Velozo.
8. A acupuntura reduz a dor ciática e melhora a funcionalidade cerebral
Um estudo
clínico realizado por pesquisadores chineses
em 2024 demonstrou que a acupuntura reduz a
dor no nervo ciático após 4 semanas de
tratamento, sendo esse efeito correlacionado
com a melhoria da percepção sensorial e
função motora. A acupuntura é uma estratégia
não-farmacológica já utilizada para controle
da dor, mas as evidências sobre os
mecanismos de ação ainda são escassas, o que
motivou a realização do estudo.
O estudo foi
conduzido com 50 pacientes com dor ciática
distribuídos entre os grupos acupuntura
(agulhas inseridas em pontos analgésicos) e
acupuntura simulada (agulha introduzida em
pontos não analgésicos, para promover o
cegamento do estudo). As avaliações
incluíram questionários, aplicados antes e
após 4 semanas de tratamento, para
determinar: intensidade da dor nas costas e
nas pernas, incapacidade funcional e
frequência e incômodo da dor. Além disso,
foi realizada uma análise da atividade
cerebral por ressonância magnética para
avaliar se o tratamento alterava a atividade
cerebral. Ao final de 4 semanas, todos os
parâmetros avaliados apresentaram melhora
significativa no grupo tratado com
acupuntura. Além disso, as análises de
neuroimagem mostraram um aumento na
atividade em algumas regiões específicas do
cérebro (lobo parietal superior e giro
pós-central) após o tratamento, sugerindo
que os efeitos analgésicos da acupuntura
podem estar relacionados à modulação da
percepção sensorial e função motora.
A acupuntura
reduziu a dor ciática, a incapacidade
funcional e a frequência/incômodo da dor,
além de aumentar a atividade em regiões
cerebrais envolvidas na percepção sensorial
e função motora. Esses achados reforçam que
a acupuntura é uma estratégia terapêutica
benéfica para pacientes com dor ciática.
Referência:
Wei XY, Wang X, Shi GX, et al. Acupuncture
Modulation of Chronic Neuropathic Pain and
Its Association With Brain Functional
Properties. J Pain. 2024;25(11):104645. doi:10.1016/j.jpain.2024.104645
Escrito por Sthefane Silva Santos.
9. Realidade virtual ajuda a diminuir intensidade e interferência da dor em pacientes crônicos
Um estudo randomizado realizado de 2020 a 2021 com 61 participantes entre 21 e 70 anos teve como objetivo avaliar se a realidade virtual com neurociência é benéfica para reduzir a intensidade e interferência da dor de pessoas com dor crônica na coluna. Entre os principais resultados destaca-se a redução da intensidade da dor em 30%, redução da catastrofização da dor e diminuição de 30% da interferência da dor para a maioria das pessoas (77%). Além disso, na ressonância magnética foi evidenciado aumento do dLPFC (córtex pré-frontal dorsolateral) e MPEC (córtex pré-frontal médio), regiões do cérebro que estão associadas a conectividade e processos cognitivos.
Os participantes foram divididos entre grupo intervenção e grupo controle. O grupo controle teve a manutenção dos cuidados habituais, enquanto o grupo intervenção realizou atividades diárias para conclusão de 17 módulos. Entre os conteúdos disponibilizados, eles recebiam informações sobre educação em dor, gatilhos emocionais, respiração para relaxamento, avaliação do pensamento, além de contar com um avatar individual que representasse a dor de cada pessoa. Essa metodologia é voltada ao aprendizado do indivíduo sobre a doença, nesse caso, entender como o próprio cérebro processa a dor, dessa forma, aplica técnicas de modelagem interoceptiva.
Durante o estudo, os dados coletados antes e após o tratamento, como qualidade de vida, de sono, catastrofização e intensidade da dor foram comparados. Através dos resultados desse estudo, foi evidenciado resultados positivos no pós-tratamento em vários quesitos no grupo intervenção comparado ao grupo controle: redução da intensidade da dor, do índice de ansiedade, depressão, raiva, fadiga e sono e consequentemente melhora da qualidade e perspectiva de vida. O principal diferencial dessa metodologia é porque ela incorpora algumas técnicas do manejo cognitivo-comportamental tradicional da dor, trata-se, portanto, de uma técnica alternativa para o controle da dor.
Por fim, mais estudos são necessários para compreender melhor a aplicação dessa terapia, uma vez que a hipótese é que ela produza melhores resultados a longo prazo, tendo em vista que os resultados preliminares evidenciaram melhora em múltiplos aspectos.
Referência: Čeko M, Baeuerle T, Webster L, Wager TD, Lumley MA. The Effects of Virtual Reality Neuroscience-based Therapy on Clinical and Neuroimaging Outcomes in Patients with Chronic Back Pain: A Randomized Clinical Trial. Preprint. medRxiv. 2023;2023.07.24.23293109. Published 2023 Jul 27. doi:10.1101/2023.07.24.23293109
Textos relacionados publicados previamente: Uso de realidade virtual para pacientes com dor crônica reduz sensibilidade à dor e aumenta tolerância. Por Ana Carolina Teles Marçal e Clara Leite Trigueiro - Edição 288
Escrito por Aline Frota Brito.
10. Uso de opioides entre crianças e adolescentes em Israel
Um estudo de coorte retrospectivo teve por objetivo investigar tendências do uso de opioides e os fatores de risco associados de forma sustentada entre crianças e adolescentes, em Israel. Durante os anos de 2003 a 2021, foram adquiridos medicamentos opioides nas farmácias comunitárias para um total de 110.995 crianças e adolescentes e foi observado aumento no uso de opioides fortes, em áreas periféricas e em pacientes não oncológicos. Além de que, os consumidores sustentados de opioides eram mais propensos a não pertencerem à população árabe, e com idades entre 6 e 12 anos.
Durante a pesquisa, foram utilizados prontuários eletrônicos (Clalit Health Services) para estabelecer tendências de compras em ambiente ambulatorial. A população de estudo incluiu todos os pacientes que utilizaram o Clalit Health Services, que tinham menos de 19 anos, em qualquer período entre os anos citados, e tinham, pelo menos, 1 registro de compra de qualquer medicamento opioide em farmácia, e possuíam pelo menos 2 meses de acompanhamento, após a primeira compra de opioide. Destes dados, 32.956 participantes foram incluídos para análise de riscos, baseado nos fatores demográficos, clínicos e farmacológicos para uso sustentado de opioides. Para cada participante, foram coletados os seguintes dados: características sociodemográficas, registros de compra de opioides em ambiente ambulatorial, consultas médicas, todos os diagnósticos registrados e os medicamentos adquiridos nas farmácias.
Os resultados revelaram que, até o ano de 2012, houve uma diminuição no uso de opioides, principalmente devido à redução dos registros relacionados à codeína e do propoxifeno. Entretanto, isto foi seguido por um aumento gradual no uso de opioides, que atingiu o pico em 2018, e em anos posteriores se exibiu um perfil ligeiramente menor. Os resultados são, portanto, relevantes para a prevenção secundária e monitorização das tendências de consumo de opioides.
Referências: Tuttnauer, A., Atias, D., Reznik, O., Shomron, N., & Obolski, U. (2024). Opioid trends and risk factors for sustained use among children and adolescents in Israel: a retrospective cohort study. Pain, 165(7), 1523–1530. https://doi.org/10.1097/j.pain.0000000000003153
Escrito por Anne Karollyne Alves da
Silva.
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