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Divulgação Científica
1. Estudos com canabinoides para dor possuem narrativas enganosasa
Uma revisão
narrativa, analisou títulos e resumos de 34
ensaios clínicos e 64 revisões sistemáticas
sobre canabinoides e medicamentos à base de
cannabis para dor, buscando identificar viés
narrativo, o qual seria a tendência de
interpretar informações de maneira a
favorecer uma narrativa específica. Os
pesquisadores, que criaram e utilizaram um
instrumento com 6 perguntas padronizadas,
encontraram viés moderado a severo em 24%
dos ensaios clínicos e 17% das revisões
sistemáticas. Essa distorção frequentemente
favorece a intervenção estudada, ressaltando
a necessidade de maior transparência na
comunicação científica para evitar
interpretações tendenciosas dos resultados.
O estudo
revelou uma prevalência significativa, de 1
em cada 5 artigos, contendo viés narrativo
em títulos e resumos de ensaios clínicos
randomizados e revisões sistemáticas do
canabidiol para o manejo da dor. Utilizando
um novo instrumento de 6 pontos,
desenvolvido especificamente para
identificar distorções na interpretação dos
resultados nessas publicações, o qual foi
aplicado a um conjunto de 34 ensaios
clínicos randomizados e 64 revisões
sistemáticas, com dados atualizados até
abril de 2021. A revisão detectou que os
benefícios estavam frequentemente
relacionados a alegações não fundamentadas
de eficácia e segurança nos títulos e
resumos, o que pode levar a uma
interpretação exagerada ou distorcida dos
resultados pelos leitores.
A detecção
significativa de viés narrativo destaca a
demanda de maior rigor na comunicação
científica e na interpretação dos dados em
estudos sobre canabinoides. Embora essas
terapias mostrem promessas significativas,
especialmente no controle da dor e sintomas
relacionados, as conclusões devem ser
interpretadas com cautela devido às
distorções potenciais na literatura
científica. Futuros estudos devem enfatizar
a transparência e a objetividade na
apresentação dos resultados para melhor
informar tanto os profissionais de saúde
quanto o público sobre os benefícios e
limitações dessas intervenções terapêuticas.
Referências:
Moore, Andrewa,*; Karadag, Paigeb,c; Fisher,
Emmad; Crombez, Geerte; Straube, Sebastianf;
Eccleston, Christopherg,h,i. Narrative bias
(“spin”) is common in randomised trials and
systematic reviews of cannabinoids for pain.
PAIN 165(6):p 1380-1390, June 2024. | DOI:
10.1097/j.pain.0000000000003140
Escrito por
Ana Clara Gonçalves Madeiro.
2. Estudos mostram que o uso de remifentanil pode estar relacionado com o aumento da dor
Pesquisadores
da Itália, Reino Unido e França realizaram
uma revisão sistemática e meta-análise de
ensaios clínicos randomizados com desenho
cruzado de 9 artigos no ano de 2023. O
objetivo primário foi analisar o aumento da
dor e a ocorrência de hiperalgesia induzida
por opioides após a retirada do remifentanil
em voluntários saudáveis, fora do ambiente
cirúrgico. O objetivo secundário da pesquisa
era analisar se a área de hiperalgesia e de
alodinia foi estendida após o uso de
remifentanil.
O remifentanil
é um opioide indicado principalmente para
controle da dor em procedimentos cirúrgicos.
A revisão sistemática incluiu apenas ensaios
clínicos randomizados. A amostra foi
composta por 9 artigos analisados, todos
duplo-cego e controlado por placebo. Um
total de 122 pacientes saudáveis foram
submetidos a algum estímulo doloroso com o
uso do remifentanil, os estímulos variaram
entre calor, frio e estimulação elétrica. O
estudo teve algumas limitações como tamanho
da amostra e heterogeneidade dos estudos.
O principal
achado do estudo foi de que após a retirada
do remifentanil houve aumento da dor dos
pacientes quando comparado com o uso de
placebo. É necessário cautela ao interpretar
os dados pois diversos outros fatores que
não foram investigados, por exemplo os
genéticos, podem influenciar na hiperalgesia
induzida por opioides em decorrência do uso
do remifentanil. Em relação ao segundo
objetivo, o aumento da área de hiperalgesia
foi relacionado ao uso do remifentanil,
podendo estar principalmente ligado a uma
redução do limiar da dor. Em relação a
alodinia os dados não foram claros.
Referências:
Dello Russo, Cinziaa,b; Di Franco, Valeriac,*;
Tabolacci, Elisabettad; Cappoli, Nataliaa;
Navarra, Pierluigia; Sollazzi, Lilianac,e;
Rapido, Francescaf,g; Aceto, Paolac,e.
Remifentanil-induced hyperalgesia in healthy
volunteers: a systematic review and
meta-analysis of randomized controlled
trials. PAIN 165(5):p 972-982, May 2024. |
DOI: 10.1097/j.pain.0000000000003119 Escrito por Luana Júlia Faria Gonçalves.
3. Efeito da terapia cognitivo-comportamental baseada na exposição no enfrentamento da fibromialgia
Um estudo
realizado na Suécia buscou comparar, por
meio de um ensaio clínico randomizado
simples-cego, duas formas de tratamento
psicológico para a dor crônica da
fibromialgia: a terapia
cognitivo-comportamental baseada na
exposição (Exp-CBT) e a terapia
cognitivo-comportamental tradicional (T-CBT),
ambas foram fornecidas pela internet e de
forma on-line. Os pesquisadores presumiam
que a Exp-CBT seria mais eficaz na redução
da dor durante o período de tratamento de 10
semanas. Porém, este estudo observou que
ambos os tratamentos tiveram efeitos
consideráveis no enfrentamento dos sintomas
dolorosos da fibromialgia, de forma que a
Exp-CBT não foi superior à T-CBT.
É importante
entender que a fibromialgia é uma condição
de dor crônica que comumente envolve fadiga,
humor deprimido, ansiedade, sono prejudicado
e distúrbios cognitivos, além da capacidade
social prejudicada e a atividade física
reduzida. A causa dessa condição é
desconhecida, porém acredita-se que
indivíduos com fibromialgia tenham uma
sensibilização central da dor amplificada
pelo sistema nervoso central. Por essa
razão, as melhores práticas para o
enfrentamento dessa condição são os
tratamentos psicológicos, como a T-CBT e a
Exp-CBT.
Dessa forma, a
T-CBT consiste no tratamento focado no
planejamento de atividades e no uso de
estratégias de relaxamento, ritmo
(equilíbrio entre atividade e repouso),
promoção de sono e atividade física
prescrita para controlar a dor e os
sentimentos causados por ela. Já a Exp-CBT
pontua que evitar os comportamentos que
causam dor e realizar comportamentos de
segurança podem levar a cronicidade e até
mesmo a deterioração a longo prazo. Por
isso, o tratamento busca encorajar os
pacientes a se envolverem nas atividades que
deram origem à dor e ao seu sofrimento
relacionado, enquanto dispensam os
comportamentos destinados a reduzir a dor e
seus sofrimentos. Contudo, ao separar os
participantes em grupos distintos,
administrando a cada um grupo uma forma de
terapia cognitivo-comportamental diferente,
os pesquisadores perceberam que os
resultados obtidos após 10 semanas de
tratamento foram muito semelhantes para
ambas as terapias, sem evidenciar eficiência
superior ao Exp-CBT. Vale destacar que,
durante todo o tratamento, os participantes
receberam orientações sobre o tratamento e
foram acompanhados por terapeutas de forma
on-line.
Em virtude
disso, embora apresente algumas limitações,
o estudo mostra a importância da comparação
de terapias dentro da pesquisa de
tratamentos psicológicos para dor crônica.
Além de evidenciar que o formato on-line
pode ser de grande utilidade clínica.
Referências:
Hedman-Lagerlöf M, Gasslander N, Ahnlund
Hoffmann A, et al. Effect of exposure-based
vs traditional cognitive behavior therapy
for fibromyalgia: a two-site single-blind
randomized controlled trial. Pain.
2024;165(6):1278-1288. doi:10.1097/j.pain.0000000000003128
Escrito por Sabrina Teixeira da Silva.
4. Treinamento neurocognitivo reduz intensidade de dor crônica e melhora o desempenho neurocognitivo geral
Estudo
realizado por pesquisadores dos Estados
Unidos, aponta que um programa de
treinamento neurocognitivo em pacientes com
dor crônica pós-operatória melhora o
desempenho neurocognitivo geral, a
flexibilidade neurocognitiva e a intensidade
da dor. O treinamento consistia na interação
por meio de jogos voltados a atividades de
flexibilidade cognitiva, memória, atenção e
velocidade. O principal objetivo do estudo
foi entender se um programa de treinamento
de 5 semanas poderia aumentar a função
cognitiva de pacientes com dor crônica.
Trata-se de um
estudo unicêntrico, prospectivo e
randomizado, realizado com 145
participantes, 98 submetidos ao treinamento
neurocognitivo e 47 do grupo controle. Os
pacientes foram selecionados com base na
presença de dor crônica no quadril, joelho
ou costas e dor crônica moderada a grave
(igual ou maior a 4 em uma escala numérica
de 0 a 10). Assim, os participantes
submetidos ao treinamento realizavam módulos
de jogos diariamente em suas casas (35
minutos), em que 40% das tarefas
compreendiam atividades de flexibilidade
cognitiva: alternação de tarefas entre
números e letras, alternação de tarefas
entre forma e direção do movimento, resposta
de inibição, ignorar pistas incorretas e
raciocínio lógico. Os outros 60% do tempo
incluíram 20% na memória, 20% na atenção e
20% na velocidade. Além disso, as alterações
na flexibilidade cognitiva foram mensuradas
por meio do Trail Making Test, Teste de
Desempenho Neurocognitivo e o Color-Word
Matching Stroop Test; a dor foi avaliada
pelo uso das escalas Inventário Breve de Dor
e Escala de Catastrofização da Dor.
Por fim, foi
verificado que o programa de treinamento
neurocognitivo, de 5 semanas, em pacientes
com dor crônica melhora modestamente o
desempenho neurocognitivo geral, a
flexibilidade neurocognitiva e a intensidade
da dor. Além disso, o estudo sugere que
existe um potencial para a aplicação da
abordagem descrita no perioperatório para
prevenir e mitigar dor crônica
pós-cirúrgica, assim como melhorar o
funcionamento pós-operatório.
Referências:
Holzer KJ, Todorovic MS, Wilson EA,
Steinberg A, Avidan MS, Haroutounian S.
Cognitive flexibility training for chronic
pain: a randomized clinical study. Pain Rep.
2024 Feb 12;9(2):e1120. doi:
10.1097/PR9.0000000000001120. PMID:
38352025; PMCID: PMC10863938.
Escrito por Ana Carolina Teles Marçal.
5. Educação em saúde para pacientes com dor pélvica persistente
Não há
consenso sobre qual é a melhor prática para
educação de pacientes com dor pélvica
persistente. Pesquisadores australianos
revisaram, de 2020 até 2022, bancos de dados
acadêmicos e de diretrizes relevantes. Esse
estudo teve o objetivo de identificar as
melhores práticas clínicas de educação em
saúde para o manejo da dor de pacientes em
tratamento de condições ginecológicas e
urológicas benignas associadas à dor pélvica
persistente.
Essa revisão
sistemática incluiu 17 diretrizes publicadas
em inglês endossadas por uma organização ou
sociedade profissional. A qualidade das
diretrizes foi avaliada usando a ferramenta
específica denominada “Appraisal of
Guidelines for Research and Evaluation II (AGREE-II)”.
Além disso, as recomendações foram reunidas
usando síntese descritiva. Importante
salientar que a análise foi realizada por
dois revisores independentes e em caso de
desacordo, um terceiro revisor foi
contatado.
Existe
heterogeneidade entre as diretrizes de
prática clínica para a educação em saúde
para o manejo da dor pélvica persistente. O
impacto principal desse resultado é a
notória necessidade de mais estudos para a
composição de recomendações assertivas e
homogêneas para compor o tratamento desses
pacientes.
Referência:
Mardon AK, Leake HB, Szeto K, Moseley GL,
Chalmers KJ. Recommendations for patient
education in the management of persistent
pelvic pain: a systematic review of clinical
practice guidelines. Pain.
2024;165(6):1207-1216. doi:10.1097/j.pain.0000000000003137
Escrito por Emanuelle Lorraine Nolêto das
Neves.
6. Receptor pode ser um potencial alvo para tratamento da dor neuropática A dor crônica
pode ser classificada em diversos tipos, e,
dentre eles, está a dor neuropática, causada
por lesões ou condições no sistema nervoso,
levando a perdas importantes na qualidade de
vida do indivíduo. Um estudo realizado em
2023 por pesquisadores nos Estados Unidos
apontou para um potencial alvo de tratamento
ao procurar investigar o papel do receptor
acoplado à proteína G 160 (GPR160) na
neuralgia e comportamentos associados.
O estudo
utilizou modelo animal de
camundongos-knockout, que tiveram o GPR160
removido através da edição genética CRISPR-Cas9
e um grupo controle composto por camundongos
com a expressão normal para o GPR160. Para o
experimento, realizou-se um modelo de
constrição crônica do nervo ciático e
administração exógena (injeções intratecais)
do peptídeo transcrito regulado por cocaína
e anfetamina (CARTp), um ligante do GPR160,
relacionado à questões álgicas e
comportamentais. Posteriormente, foram
avaliadas a alodinia mecânica e relacionada
ao frio, a cognição por meio de labirintos e
puzzles e a depressão por meio da
imobilidade na água. Verificou-se que os
camundongos-knockout não desenvolveram
respostas comportamentais de
hipersensibilidade à dor, sem haver, no
entanto, diferenças expressivas entre os
grupos para a cognição e aspectos afetivos.
A partir dos
resultados, é observado que o GPR160 pode
ser necessário para o processo da dor
neuropática, e que pode ser um objeto de
pesquisas futuras para o desenvolvimento de
novos medicamentos para essa condição que
aflige de maneira importante diversas
pessoas. É válido destacar que análises
posteriores são necessárias para melhor
entendimento do receptor GPR160, visto que é
pouco conhecido e não foi testado em
respostas de estresse e medo nos grupos de
roedores.
Referência:
Schafer, Rachel M.a; Giancotti, Luigino A.a;
Davis, Daniel J.b; Larrea, Ivonne G.a; Farr,
Susan A.a,c,d; Salvemini, Danielaa,*.
Behavioral characterization of
G-protein-coupled receptor 160 knockout mice.
PAIN 165(6):p 1361-1371, June 2024. | DOI:
10.1097/j.pain.0000000000003136
Escrito por Júlia Paiva Fideles.
7. Aumento do risco de dor neuropática para portadores de um haplótipo de antígeno leucocitário humano
Um estudo de caso-controle foi realizado no Centro Multidisciplinar de Dor, Hospital Universitário de Uppsala, Suécia, e teve por objetivo identificar os fatores de risco genéticos, especificamente entre os loci HLA, associados à dor neuropática crônica após lesões nervosas traumáticas e cirurgia em membros superiores. Como principal achado, foi descoberto que o haplótipo do antígeno leucocitário humano (HLA-A) foi associado a risco aumentado de desenvolver dor neuropática persistente na extremidade superior.
Entre os múltiplos fatores de risco para o desenvolvimento de dor pós-traumática e pós-cirúrgica persistente, um mecanismo neuropático devido à lesão nervosa iatrogênica tem sido proposto como a principal causa dessas condições. Para a pesquisa foram selecionados 131 indivíduos, que foram separados em dois grupos, o primeiro grupo com sujeitos que possuíam dor neuropática, composto por 70 indivíduos, e o grupo sem dor foi composto por 61 indivíduos. Amostras de sangue foram coletadas para investigar a contribuição dos alelos HLA para a neuropatia persistente. Todos os indivíduos tiveram danos nervosos verificados no intraoperatório na extremidade superior. Eles foram submetidos a exame neurológico clínico à beira leito para identificar o componente da dor neuropática de acordo com o atual sistema de classificação da dor neuropática.
Como análise dos dados obtidos na pesquisa, conclui-se que a duração da dor foi significativamente maior no grupo com dor em comparação com o grupo sem dor. Indivíduos com dor neuropática classificaram intensidades de dor significativamente mais altas, e tiveram maior grau de incapacidade do que o grupo controle sem dor.
Referências: Miclescu, Adrianaa,*; Rönngren, Claraa; Bengtsson, Matsb; Gordh, Torstena; Hedin, Andersb. Increased risk of persistent neuropathic pain after traumatic nerve injury and surgery for carriers of a human leukocyte antigen haplotype. PAIN 165(6):p 1404-1412, June 2024. | DOI: 10.1097/j.pain.0000000000003143
Escrito por Anne Karollyne Alves da
Silva.
8. Bem-estar e qualidade de vida para pessoas com dor crônica
Alcançando
bem-estar e qualidade de vida através do
aplicativo EPIO, uma ferramenta digital para
autogestão de dor crônica. Um ensaio clínico
randomizado feito durante 12 meses teve como
objetivo avaliar a eficácia do EPIO, uma
intervenção de autogestão digital baseada em
evidências e centrada no usuário (pessoas
com dor crônica). A dor crônica é um
problema de saúde pessoal e de preocupação
pública, uma vez que impacta fatores
biológicos, psicológicos e sociais, assim,
alterando a qualidade de vida dos
indivíduos. Dessa forma, encontrar
abordagens para autogestão da dor é
fundamental. Com este intuito, o programa
EPIO, nome inspirado na deusa grega Epione
conhecida por alívio da dor, tem como
objetivo a autogestão da dor.
O estudo foi
feito a partir da seleção de pessoas com dor
crônica (dor por mais de 3 meses) exceto dor
crônica relacionada ao câncer, enxaqueca e
doenças psicológicas graves. A amostra final
foi composta por 259 pessoas, as quais foram
dispostas aleatoriamente no grupo
intervenção com o programa EPIO e grupo
controle com cuidados habituais. A coleta de
dados ocorreu de 3 em 3 meses, durante 12
meses. Além disso, foram avaliadas uma série
de questões sobre a dor como interferência
da dor, sintomas de ansiedade e depressão,
qualidade de vida, entre outros fatores. O
grupo intervenção recebeu uma introdução
sobre o aplicativo, além de breves
telefonemas de acompanhamento. O conteúdo do
programa EPIO é baseado principalmente em
Terapia Cognitiva Comportamental, e gira em
torno de componentes conhecidos para o
autogerenciamento da dor. O EPIO é composto
por 9 módulos contendo uma combinação de
informações psicoeducacionais (por exemplo,
sobre dor, importância do ritmo da
atividade, e uso de estratégias de
enfrentamento) e exercícios abordando
desafios de pensamento e respiração
diafragmática.
Ao fim do
estudo, o grupo intervenção com acesso ao
EPIO relatou sintomas significativamente
mais baixos de depressão e autorregulação,
melhor qualidade de vida, vitalidade e saúde
mental quando comparados ao grupo controle.
Ou seja, a intervenção foi associada a
mudanças significativas para variáveis
psicológicas. Logo, o EPIO pode contribuir
para o bem-estar psicológico e melhor
qualidade de vida, mesmo vivendo com dor
crônica.
Referência:
Solberg Nes, Lise; Børøsund, Elin; Varsi,
Cecilie; Eide, Hilde; Waxenberg, Lori B;
Weiss, Karen E; Morrison, Eleshia J; Støle,
Hanne Stavenes; Kristjansdottir, Ólöf B;
Bostrøm, Katrine; Strand, Elin Bolle; Hagen,
Milada Cvancarova Småstuenl; Stubhaug, Audun;
Schreurs, Karlein M.G.o. Living well with
chronic pain: a 12-month randomized
controlled trial revealing impact from the
digital pain self-management program EPIO.
PAIN Reports 9(4):p e1174, August 2024. |
DOI: 10.1097/PR9.0000000000001174
Escrito por Milena Dias Oliveira.
9. Cuidado integral ao paciente com dor crônica reduz custos e melhora qualidade de vida
A dor crônica
muitas vezes está associada à incapacidade
laboral, o distanciamento a atividades de
lazer e dificuldade a realizar tarefas
cotidianas. Torna-se preocupante, pois, a
patologia ao passar dos anos tende a piorar
o quadro geral dos pacientes, considerando
que haverá mais gastos com tratamentos e
limitações na vida. Nesse sentido, uma
revisão sistemática realizada em 2023 teve
como objetivo identificar e interpretar os
resultados da produtividade de ensaios
clínicos de intervenções para tratamento da
dor crônica, além de responder sobre as
medidas de avaliação econômica de
intervenção no tratamento e os efeitos das
intervenções na produtividade.
Os 12 artigos
selecionados tratavam sobre avaliação
econômica de intervenções não farmacológicas
e não cirúrgicas para o tratamento da dor
crônica em adultos entre 18 e 65 anos com
dor musculoesquelética e/ou neuropática. A
maior parte dos estudos selecionados foram
artigos originais com pacientes com dor
lombar crônica, todos avaliaram a perda de
produtividade através do absenteísmo do
trabalho remunerado. Os tratamentos
recomendados para os pacientes incluíam
fisioterapia, acupuntura, atividade física e
manipulação da coluna vertebral. O retorno
ao trabalho não foi um requisito avaliado,
porém foi evidenciado redução de custos,
sendo assim, podendo ser um reflexo de
melhora da saúde. Entre os achados, foi
constatado que os pacientes que tiveram o
cuidado integrado apresentaram melhora
significativa na qualidade de vida, sendo um
dado importante, pois em 2010, o custo
estimado relacionado a perda de
produtividade pela dor foi de US$299 a US$
335 bilhões nos Estados Unidos.
Mais estudos
sobre o assunto são necessários para
compreender melhor o cenário da relação
entre custos de produtividade, visto que
informações sobre o tema ainda são escassas.
Para assim revelar mais informações para
intervenções adequadas para esse público.
Referência:
Chowdhury AR, Graham PL, Schofield Dosta DSJ,
Nicholas M. Productivity outcomes from
chronic pain management interventions in the
working age population; a systematic review.
Pain. 2024;165(6):1233-1246. doi:10.1097/j.pain.0000000000003149
Nota: Se
quiser saber mais sobre o tema, há um texto
intitulado “Adultos com dores apresentam
piora ao longo dos anos de vida e tendem a
se afastarem mais de suas atividades em
profissões assistenciais”, publicado em
26/05/2023.
Escrito por Aline Frota Brito.
10. Abordagem inovadora na redução da dor em ciática em pacientes durante a pandemia
Pesquisadores
da National University of Natural Medicine
em Portland, Oregon, investigaram a
radiculopatia lombossacral (LR), também
conhecida como ciática ou dor lombar
irradiada. O estudo, conduzido durante a
pandemia de COVID-19, comparou a eficácia do
Aprimoramento da Recuperação Orientada à
Atenção Plena (MORE) com o tratamento usual
(TAU) em melhorar a qualidade de vida, dor,
depressão, e atenção plena em pacientes com
LR. O objetivo principal foi avaliar se o
MORE poderia oferecer melhorias superiores
em relação ao TAU.
No estudo, 75
adultos com LR foram randomizados para
receber MORE ou TAU por 8 semanas. Os
participantes, com idades entre 18 e 65
anos, deveriam ter sintomas de radiculopatia
abaixo do joelho há mais de 6 semanas,
capacidade de ler inglês e acesso diário à
internet. As sessões de MORE foram
realizadas virtualmente devido à pandemia,
integrando práticas de atenção plena,
reavaliação e saboreio (práticas de atenção
plena, discussões em grupo, e educação sobre
dor). Os participantes também receberam
meditações guiadas e tarefas para realizar
durante a semana. As visitas iniciais
ocorreram pessoalmente, onde foram feitos
testes de elegibilidade e preenchimento de
questionários. Os participantes do grupo de
controle, TAU, mantiveram seu regime de
tratamento e relataram mudanças no plano de
tratamento através de uma pesquisa diária. A
análise incluiu todas as 7 medidas de
resultados de autorrelato usadas no estudo:
Índice de Incapacidade de Oswestry
Modificado (ODI), Questionário painDETECT (PDQ),
Dor (VAS), Inventário de Depressão Maior (MDI),
Questionário de Qualidade de Vida SF-12 (SF-12),
Escala de Reavaliação Consciente da Dor (MRPS)
e Questionário de Mindfulness de Cinco
Facetas (FFMQ). Os participantes preencheram
questionários nas visitas iniciais e de
acompanhamento do estudo, enquanto a escala
de dor foi preenchida diariamente por meio
de e-mails automatizados ou textos por
aplicativos de mensagens.
Os resultados
mostraram que o MORE reduziu
significativamente a intensidade da dor
diária, mas não os sintomas de incapacidade
ou depressão, em comparação com o TAU. Houve
melhorias significativas na atenção plena e
na reavaliação consciente da dor entre os
participantes do MORE. Estes achados sugerem
que o MORE pode ser eficaz na redução da dor
em pacientes com LR, embora futuras
pesquisas devam explorar intervenções
adicionais para abordar a incapacidade
associada à condição.
Referência:
Wexler RS, Fox DJ, ZuZero D, et al.
Virtually delivered Mindfulness-Oriented
Recovery Enhancement (MORE) reduces daily
pain intensity in patients with lumbosacral
radiculopathy: a randomized controlled trial.
Pain Rep. 2024;9(2):e1132. Published 2024
Mar 14. doi:10.1097/PR9.0000000000001132
Escrito por Roberto Junior Rodrigues de
Jesus.
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