Divulgação Científica
1. Desafios da enfermagem na avaliação da dor oncológica
Pesquisadores
do Centro Universitário da Serra Gaúcha,
Brasil, realizaram um estudo descritivo
qualitativo sobre a visão da equipe de
enfermagem acerca do gerenciamento da dor em
pacientes oncológicos. A principal conclusão
do artigo foi a percepção de que a principal
intervenção de enfermagem para o alívio da
dor é a analgesia sendo em muitos casos, a
única intervenção utilizada, mas ainda
existem outras que podem ser exploradas para
o manejo da dor.
A pesquisa foi
realizada por meio de entrevista
semiestruturada, e a amostra foi composta
por 12 profissionais de enfermagem e 7
pacientes de uma unidade de internação de
oncologia. Ao perguntar sobre avaliação da
dor, 4 utilizam a escala de avaliação da
dor. Além disso, relataram ter dificuldade
em avaliar corretamente os casos quando o
próprio paciente não consegue mensurar sua
dor. Sobre os pacientes, todos relataram
receber medicação para dor, mas nenhum
participante relatou ter recebido cuidados
diferenciados para o alívio da dor.
É de suma
importância que a equipe de enfermagem saiba
manter uma comunicação de qualidade com os
pacientes para uma melhor avaliação da dor.
Dessa forma, novas intervenções podem ser
pensadas para proporcionar conforto ao
paciente, para além da administração de
medicamentos prescritos, como por exemplo,
mudanças de decúbito e técnicas de
relaxamento, entre outros.
Referências:
Turatti, P. e de Faveri, F. (2023). O
gerenciamento da dor sob o enfoque da equipe
de enfermagem e do paciente oncológico.
Revista Brasileira de Revisão de Saúde, 6
(2), 6212–6222. https://doi.org/10.34119/bjhrv6n2-140
Escrito por
Maria Clara Alexandroni Cordova de Sousa.
2. O tempo de intervenção educativa na educação da neurociência da dor associada a exercícios
Um estudo publicado pela revista Pain em
2024, de caráter internacional – com
pesquisadores do Chile, Bélgica, Espanha e
Dinamarca -, realizou uma revisão
sistemática e meta-análise para verificar a
dose ideal, em minutos, da aplicação da
educação neurocientífica da dor associada
com um programa de exercícios e a diminuição
da intensidade álgica e incapacidade em
pessoas com dor crônica espinhal. Na
pesquisa, foram incluídos 26 ensaios
clínicos randomizados e 1852 participantes,
sendo possível revelar os efeitos benéficos
a partir de uma dose mínima de 150 a 200
minutos na intervenção.
A pesquisa foi conduzida de acordo com o
protocolo PRISMA. No quesito de intensidade
álgica, 21 estudos a exploraram, com a
educação em neurociência da dor apresentando
efeito positivo moderado para a sua
diminuição, e o máximo de seus efeitos com a
aplicação de 250 minutos. Já a incapacidade
foi discutida em 20 estudos, tendo doses
semelhantes, porém com um efeito menor.
Outros aspectos investigados - como a
qualidade de vida, inventário de
sensibilização central, e limiar de pressão
à dor espinhal e não-espinhal - não
apresentaram dados estatísticos
significativos, principalmente em razão da
escassez de suas abordagens.
Infere-se, portanto, a partir dos impactos
positivos da educação em neurociências da
dor, a importância da comunicação,
orientações dos profissionais de saúde e
maior exploração na área. Ao entender as
respostas de seu corpo frente a um estímulo
desconfortável, o paciente obtém maior
autonomia, mudanças de percepção e
identificação de seus limites.
Referências: Núñez-Cortés R, Salazar-Méndez
J, Calatayud J, Malfliet A, Lluch E,
Mendez-Rebolledo G, Guzmán-Muñoz E,
López-Bueno R, Suso-Martí L. The optimal
dose of pain neuroscience education added to
an exercise programme for patients with
chronic spinal pain: a systematic review and
dose-response meta-analysis. Pain. 2024 Jun
1;165(6):1196-1206. doi: 10.1097/j.pain.0000000000003126.
Epub 2023 Nov 30. PMID: 38047772. Escrito por Júlia Paiva Fideles.
3. Traumas na infância aumentam a prescrição futura de analgésicos
A exposição a
traumas na infância está significativamente
associada a taxas mais altas de prescrição
de analgésicos para adolescentes e adultos
jovens, como revelada por uma pesquisa
prospectiva realizada na Noruega. Conduzida
com participantes do estudo Young-HUNT3 na
Noruega entre 2006 e 2008 e acompanhados até
2021 através do banco de dados norueguês de
prescrição (NorPD). O artigo indicou que
vivências infantis traumáticas, como abuso
sexual e violência física, foram
particularmente preditivas, evidenciando uma
relação dose-resposta com a gravidade do
quadro de dor.
A partir de
uma base de dados de prescrição e inquéritos
validados sobre a exposição ao trauma de
8.000 jovens noruegueses, o artigo
correlacionou que aqueles com maior carga de
abalo traumático tinham taxas
significativamente mais altas de prescrição
de medicamentos para controle da dor. Além
disso, durante o acompanhamento por 18 anos,
técnicas de análise ajustaram fatores
socioeconômicos e psicossociais e
evidenciaram que os sintomas psicológicos
emergentes na adolescência podem ser
cruciais para a associação entre trauma e
prescrições de analgésicos. Assim, este
estudo de coorte demonstra a importância de
investigar outras abordagens terapêuticas
para evitar um potencial risco de
dependência e uso indevido de opioides em
jovens adultos.
Em suma, o
artigo sugere que as taxas consistentemente
elevadas de prescrição de analgésicos para
indivíduos expostos a traumas na infância
refletem uma maior carga de sintomas de dor.
No entanto, o estudo é limitado pela falta
de dados sobre outros tratamentos oferecidos
e pelo possível viés de memória devido ao
relato. Portanto, faz-se necessário mais
estudos de abordagem de tratamento da dor
que levem em consideração o histórico de
trauma para direcionar os profissionais de
saúde na escolha de intervenções que abordem
necessidades psicossociais e que impeçam o
avanço de maiores danos aos pacientes.
Referência:
Baumann-Larsen, M., Storheim, K., Stangeland,
H., Zwart, J. A., Wentzel-Larsen, T.,
Skurtveit, S., Dyb, G., & Stensland, S. Ø.
(2024). Childhood trauma and the use of
opioids and other prescription analgesics in
adolescence and young adulthood: The HUNT
Study. Pain, 165(6), 1317–1326. https://doi.org/10.1097/j.pain.0000000000003131
Escrito por Ana Clara Gonçalves Madeiro.
4. A frequência cardíaca noturna prediz a intensidade da dor no dia seguinte
A frequência
cardíaca (FC) noturna é capaz de prever a
intensidade da dor em pacientes com
fibromialgia e com dor lombar primária. Um
estudo realizado na Inglaterra teve como
objetivo testar as relações entre marcadores
do sistema nervoso autônomo, como a FC, e
intensidade da dor. Da mesma forma, diversos
estudos já têm associado a dor crônica
primária, ou seja, aquela sem lesão
tecidual, ao aumento da sensibilidade do
sistema nervoso central.
A pesquisa foi
composta por 75 participantes, dos quais 66
forneceram pelo menos 14 dias de dados
subjetivos. Os participantes foram
recrutados através de boletins informativos
relacionados à dor crônica, de forma que um
dos critérios de inclusão era ter
diagnóstico de fibromialgia ou dor crônica
lombar primária, destes: 28 possuíam dor
lombar crônica e 38, fibromialgia. Outro
critério de inclusão era não possuir
história de doença cardíaca. A partir disso,
os participantes monitoraram seu estado
emocional, intensidade da dor e biometria
cardíaca durante 3 meses. A biometria
cardíaca foi avaliada por meio de um sensor
de pulseira que fornecia dados da FC,
saturação de oxigênio e variabilidade da
frequência cardíaca. Os dados subjetivos
sobre intensidade da dor eram fornecidos
pelos participantes no período de vigília.
Por fim, os
resultados do estudo sugerem uma correlação
entre a FC noturna e a dor do dia seguinte.
Também foi possível observar que não houve
correlações significativas entres os tipos
de dor. Além disso, o estudo também
demonstrou que o uso mais frequente de
analgésicos está associado a maior
intensidade de dor, embora esse efeito não
tenha modulado a associação entre FC do sono
e intensidade da dor. Portanto, através dos
achados do estudo é possível prever a
intensidade da dor por meio da frequência
cardíaca noturna.
Referência:
Dudarev, V., Barral, O., Radaeva, M., Davis,
G., & Enns, J. T. (2024). Night time heart
rate predicts next-day pain in fibromyalgia
and primary back pain. Pain reports, 9(2),
e1119. https://doi.org/10.1097/PR9.0000000000001119
Escrito por Milena Dias Oliveira.
5. Sistema nervoso periférico como impulsionador da dor crônica
Neurônios
aferentes somatossensoriais exibem atividade
espontânea em condições patológicas. O
objetivo do estudo foi analisar que tipos de
fibras nervosas sofrem esse efeito, por
quanto tempo, e se neurônios aferentes
musculares são mais sensibilizados que os da
pele. Pesquisadores da Alemanha e do Reino
Unido realizaram uma revisão sistemática em
2021. As análises mostram a presença da
atividade espontânea em dor neuropática após
um longo período de início da lesão
periférica ou aparecimento de sintomas.
Constatou-se que a atividade espontânea é
gerada de forma endógena pelo neurônio ou
por estímulos externos, não sendo
“espontânea”. A hipótese é que esse processo
ocorre continuamente em fibras A e C.
A revisão
sistemática foi realizada utilizando a base
de dados PubMed. Foram selecionados 147
artigos sobre experimentos em animais e 40
em humanos. Observou-se uma heterogeneidade
dos estudos em relação à localização da
lesão, ao tipo, técnica de registro e
padrões de notificação. A análise dos
estudos indica que as fibras A possuem
atividade mais acentuada e prolongada do que
as fibras C. Ademais, foi visto que o
registro da atividade espontânea dos
neurônios aferentes musculares foi maior.
Concluiu-se
que a atividade espontânea é gerada tanto
nas fibras não nociceptivas, como em
nociceptores após lesões na dor crônica,
sendo mais significativa em fibras aferentes
musculares na neuropatia dolorosa. Houve
limitações do estudo por ter sido utilizada
somente uma base de dados sem inclusão de
artigos com outros idiomas. Ademais,
verifica-se a necessidade de haver mais
dados eletrofisiológicos e mais
padronizados.
Referências:
Choi D, Goodwin G, Stevens EB, Soliman N,
Namer B, Denk F. Spontaneous activity in
peripheral sensory nerves: a systematic
review. Pain. 2024 May 1;165(5):983-996. doi:
10.1097/j.pain.0000000000003115. Epub 2023
Nov 22. PMID: 37991272; PMCID: PMC11017746.
Escrito por Giovanna Aparecida Carvalho
de Jesus.
6. Adolescentes expostos a etanol apresentam alodinia e alteração na neurotransmissão de dopamina Pesquisadores
concluíram que a exposição ao etanol aumenta
a sensibilidade à dor no período de
abstinência de forma dependente da
neurotransmissão dopaminérgica no núcleo
accumbens. O estudo foi realizado nos
Estados Unidos, e foram utilizados ratos
para obter seus resultados. Os principais
objetivos do estudo foram investigar o
impacto da exposição crônica e intermitente
ao etanol durante a adolescência na alodinia
mecânica, além das mudanças na
neurotransmissão dopaminérgica no núcleo
accumbens durante a abstinência prolongada.
Foram
utilizados 44 machos e 47 fêmeas, que foram
alojados em pares com um companheiro do
mesmo sexo e idade. Os ratos foram então
submetidos a ciclos de vapor de etanol, para
o grupo exposto, ou ar, para o grupo
controle, seguidos de um ciclo de
abstinência, este processo foi repetido 10
vezes. A alodinia mecânica foi avaliada por
meio do método de filamentos de von Frey,
enquanto o impacto do etanol sobre a
cinética de dopamina no núcleo accumbens
após abstinência prolongada foi determinado
por meio da voltametria cíclica rápida ex
vivo.
Com isso,
observou-se que a exposição ao vapor de
etanol aumentou a sensibilidade à dor e
alterou a dinâmica da dopamina no núcleo
accumbens. Segundo os autores, os achados do
estudo sugerem que a exposição ao etanol na
adolescência pode afetar a maturação do
sistema dopaminérgico, sendo necessária a
realização de mais estudos para a
comprovação efetiva deste fato.
Referência:
Kelley AM, Del Valle EJ, Zaman S, Karkhanis
AN. Adolescent ethanol exposure promotes
mechanical allodynia and alters dopamine
transmission in the nucleus accumbens shell.
Pain. 2024;165(6):e55-e64. doi:10.1097/j.pain.0000000000003097
Escrito por Mariana Jonas Smith.
7. Dor crônica aumenta risco de desenvolvimento de COVID-19 prolongada
Um estudo revelou que a presença de condições de dor crônica sobrepostas aumenta significativamente o risco de desenvolver sintomas prolongados de COVID-19. Pesquisadores analisaram dados de registros eletrônicos de saúde nos EUA, comparando indivíduos com COVID-19, influenza e um grupo de controle não infectado, para entender melhor as consequências a longo prazo da COVID-19.
Foram utilizados dados de registros eletrônicos de saúde, o estudo analisou três coortes distintas e aplicou uma correspondência de escore de propensão 1:1 sem substituição. A análise estatística foi conduzida com o software SAS, considerando fatores de risco estabelecidos e determinantes da gravidade da COVID-19. Os participantes foram acompanhados por períodos de 180 a 1.165 dias, de janeiro de 2020 a março de 2023. Os resultados mostraram aumento no risco de sintomas prolongados de COVID-19, associados com condições de dor crônica. A pesquisa concluiu que condições de dor crônica sobrepostas são um fator de risco significativo para o desenvolvimento de COVID prolongada, indicando a necessidade de abordagens terapêuticas personalizadas para esses pacientes.
Estes achados destacam a importância de uma maior atenção à interseção entre condições de dor crônica sobrepostas e COVID-19, visando melhorar os resultados de saúde. O estudo sugere que se deve considerar a complexidade dos fatores subjacentes para tratar eficazmente a COVID longa.
Referência: Bergmans, R. S., Clauw, D. J., Flint, C., Harris, H., Lederman, S., & Schrepf, A. (2024). Chronic overlapping pain conditions increase the risk of long COVID features, regardless of acute COVID status. Pain, 165(5), 1112–1120. https://doi.org/10.1097/j.pain.0000000000003110
Escrito por Larissa Souza França.
8. Influência da emoção na modulação emocional da dor e do reflexo nociceptivo
Um estudo
realizado pelo Departamento de Psicologia,
da Universidade de Tulsa, nos Estados
Unidos, teve como objetivo analisar as
influências dos procedimentos de regulação
da emoção na modulação emocional da dor e do
reflexo de flexão nociceptiva, um marcador
da nocicepção espinal. Este estudo observou
que a supressão da emoção é mais eficaz na
modulação emocional da dor do que o reforço
das emoções. Além disso, notou que as
magnitudes do reflexo de flexão nociceptiva
diminuíram em ambos os grupos durante as
estratégias de regulação emocional.
De forma
geral, o emocional do ser humano tem efeito
na modulação da dor, as emoções positivas
podem inibir a dor, enquanto as emoções
negativas podem facilitar a sensação
dolorosa. Por essa razão, muitas
intervenções psicossociais aproveitam essa
relação entre a emoção e a dor para melhorar
a regulação das emoções e com isso auxiliar
como medida para o controle da dor. O
presente estudo utilizou imagens para
investigar o efeito de instruções de
supressão e reforço na resposta emocional,
na dor e na nocicepção espinal, avaliada por
meio do reflexo de flexão nociceptiva. Essas
imagens foram apresentadas em dois grupos e
eram divididas em três tipos: agradáveis,
desagradáveis e neutras. Dessa forma,
durante o estímulo elétrico doloroso, os
participantes observavam as imagens e
tentavam regular as emoções causadas por
elas por meio de estratégias de supressão ou
reforço, a depender do grupo no qual estavam
inseridos. Nesse processo, eletrodos
monitoram as alterações nas sensações
dolorosas dos participantes.
Em virtude
disso, embora apresente algumas limitações,
o estudo mostra que a dor e a sua
sinalização estão intimamente relacionadas
ao estado emocional de um indivíduo e que a
regulação emocional pode ter efeito na
percepção dolorosa. Ademais, os resultados
obtidos fornecem um apoio mecanista para a
utilização de intervenções psicológicas com
o intuito de minimizar o efeito das emoções
negativas na dor.
Referências:
Toledo TA, Vore CN, Huber FA, Rhudy JL. The
effect of emotion regulation on the
emotional modulation of pain and nociceptive
flexion reflex. Pain. 2024;165(6):1266-1277.
doi:10.1097/j.pain.0000000000003127
Escrito por Sabrina Teixeira da Silva.
9. Impacto de efeitos específicos e placebo na dor lombar crônica: meta-análise
O estudo
revela que melhorias significativas na dor
lombar crônica são atribuíveis tanto a
efeitos específicos quanto a placebos, em
intervenções conservadoras. Publicado no ano
de 2024 por pesquisadores da Universidade do
Sul da Dinamarca, a pesquisa apresenta
resultados indicadores de que cerca da
metade do efeito de melhoria no tratamento
com intervenções, especialmente as
intervenções passivas, para pacientes com
dor lombar crônica não específica, não é
devido a efeitos específicos ou efeito
placebo do tratamento.
Para a
realização da pesquisa foram coletados e
analisados dados de diversos ensaios
clínicos randomizados. Houve investigação de
intervenções conservadoras para pacientes
com dor lombar crônica inespecífica,
incluindo tratamentos ativos, placebos e
ausência de tratamento. Foram utilizadas
técnicas estatísticas avançadas para
combinar os resultados de diferentes
estudos, avaliando tanto os efeitos
específicos dos tratamentos quanto os
efeitos placebo. Isso permitiu aos
pesquisadores quantificarem e comparar o
impacto desses fatores nas melhorias
clínicas observadas nos pacientes,
oferecendo perspectivas importantes sobre a
eficácia relativa das abordagens
terapêuticas disponíveis para a dor lombar
crônica.
Esse achado
destaca a complexidade na interpretação dos
resultados de ensaios clínicos e ressalta a
importância de considerar o contexto e os
efeitos não específicos nos resultados
terapêuticos. As limitações na qualidade das
evidências sugerem que os verdadeiros
efeitos podem ser substancialmente
diferentes das estimativas encontradas neste
estudo, indicando a necessidade de mais
pesquisas robustas nesta área.
Referências:
Pedersen, J. R., Strijkers, R., Gerger, H.,
Koes, B., & Chiarotto, A. (2024). Clinical
improvements due to specific effects and
placebo effects in conservative
interventions and changes observed with no
treatment in randomized controlled trials of
patients with chronic nonspecific low back
pain: a systematic review and meta-analysis.
Pain, 165(6), 1217–1232. https://doi.org/10.1097/j.pain.0000000000003151
Escrito por Clara Leite Trigueiro.
10. Mulheres tendem a ter mais dor crônica e sensibilização central
Por trás da
cronificação da dor, há uma série de fatores
que podem influenciar para esse desfecho
como histórico e diferença de sexo. Um dos
mecanismos que pode explicar a diferença de
percepção entre homens e mulheres é a
sensibilização central, pois ela é um
marcador que age na transição da dor aguda
para crônica. Um estudo de 2023 realizado na
Universidade de Zurique. na Suíça,
evidenciou que as mulheres tendem a ter mais
sensibilização central e pode explicar o
porquê de elas apresentarem mais frequência
de dor crônica do que os homens. Esse
trabalho é considerado o primeiro a observar
a sensibilização central induzida
eletricamente. O objetivo foi testar se há
diferenças entre pessoas saudáveis quanto à
hiperalgesia secundária.
O estudo
contou com a participação de 66
participantes (33 mulheres), entre 18 e 40
anos em bom estado de saúde, sem dor crônica
e sem uso de analgésico nas últimas 24h.
Eles foram submetidos a 3 testes:
sensibilidade ao calor, mecânica e elétrica.
A de calor foi testada através de estímulo
com temperatura de 48ºC repetido por 10
ciclos. Durante isso, foi pedido aos
participantes concentração para avaliar a
dor entre 0 e 200. Os resultados
evidenciaram que as mulheres relataram maior
nível de dor comparado com os homens.
A
sensibilidade mecânica foi testada com uma
escova macia no dorso de um dos pés e o
outro pé recebeu um estímulo do filamento de
von Frey. O objetivo desse teste foi
comparar a percepção diante dos dois
estímulos. Entre os achados, está que a área
sentida das mulheres foi maior, o que indica
que elas têm a pele mais sensibilizada. E
por fim, o teste elétrico foi avaliado
através do reflexo de abstinência
nociceptivo por meio dos resultados da
eletromiografia de dois músculos da coxa
após estímulos elétricos no nervo sural.
Nesse teste os participantes foram
submetidos a estimulações que duravam 1
milissegundo a 200 Hz. Nessa avaliação, foi
evidenciado que elas têm maior área de
sensibilização relacionada a hiperalgesia
mecânica secundária, ou seja, uma sensação
exacerbada de dor.
Por fim, esse
estudo evidenciou que a sensibilização
central induzida é maior em mulheres do que
em homens, esses achados contribuem para
compreender os motivos de maior acometimento
pela dor, sendo uma possível justificativa.
Mais pesquisas são necessárias para melhor
compreender os mecanismos da cronificação da
dor e melhorar no manejo dos pacientes
considerando suas especificações.
Referência:
Guekos A, Saxer J, Salinas Gallegos D,
Schweinhardt P. Healthy women show more
experimentally induced central sensitization
compared with men. Pain.
2024;165(6):1413-1424. doi:10.1097/j.pain.0000000000003144
Escrito por Aline Frota Brito.
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