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Divulgação Científica
1. Estados Unidos aprova novo analgésico não opioide
A Food and
Drug Administration (FDA), agência
reguladora de medicamentos nos Estados
Unidos, aprovou recentemente a suzetrigina (Journeyx),
um novo analgésico não opioide indicado para
o controle da dor aguda moderada a grave. O
medicamento, desenvolvido pela Vertex
Pharmaceuticals, oferece uma alternativa aos
opioides, que dominam o mercado há décadas
apesar de seus riscos de dependência,
depressão respiratória e inúmeros outros
efeitos indesejados.
A suzetrigina
atua bloqueando seletivamente o canal de
sódio dependente de voltagem tipo NaV1.8,
envolvido na transmissão dos estímulos
dolorosos pelos neurônios sensoriais.
Diferentemente dos opioides, que atuam no
sistema nervoso central, este fármaco tem um
mecanismo periférico, reduzindo os riscos de
indesejados graves. Antes de sua aprovação,
o novo analgésico foi investigado em estudos
clínicos, que envolveram mais de 2.000
pacientes submetidos a cirurgias de grande
porte. Nesses estudos, a suzetrigina
proporcionou um alívio da dor comparável à
combinação de paracetamol e opioides, porém
com melhor perfil de segurança e tolerância.
O sucesso no
desenvolvimento da suzetrigina estimula
pesquisas de novos alvos moleculares para o
desenvolvimento de analgésicos mais eficazes
e seguros. É importante ressaltar, que
estudos de farmacovigilância são ainda
fundamentais para uma análise mais completa
da segurança desse novo analgésico na
população geral.
Referência:
Kingwell K. FDA approves new non-opioid pain
drug. Nat Rev Drug Discov. 2025;24(3):158.
doi:10.1038/d41573-025-00022-0
Escrito por
Ana Carolina Lucchese Velozo.
2. Sedentarismo é o principal fator de piora da dor em idosos
A inatividade
física foi o fator de estilo de vida mais
fortemente associado à gravidade da dor
crônica em idosos, superando o tabagismo, a
má alimentação e os distúrbios do sono, diz
estudo baseado na 9ª edição do inquérito
europeu, realizado entre 2021 e 2022. A dor
crônica é uma condição comum na população
idosa, frequentemente associada a problemas
musculoesqueléticos e agravada por fatores
como sedentarismo, alimentação inadequada e
doenças crônicas. Este estudo foi conduzido
com mais de 27 mil indivíduos com dor, com
idade média de 73 anos, em 27 países
europeus e Israel para avaliar a associação
entre hábitos de vida não saudáveis e a
gravidade da dor. O estudo reforça que
estilos de vida não saudáveis têm forte
impacto na intensidade da dor entre os
idosos.
Os
pesquisadores entrevistaram adultos acima de
50 anos sobre hábitos como tabagismo,
qualidade do sono, consumo de frutas e
vegetais, além da prática de atividades
físicas moderadas e intensas. Os
participantes classificaram também a sua dor
como leve, moderada ou grave, indicando
ainda as regiões do corpo afetadas. A
maioria dos participantes relatou dor nas
costas, quadris ou joelhos, e mais da metade
deles revelou não realizar quase nenhuma
atividade física. Entre os fatores
avaliados, a inatividade física foi o mais
fortemente associado à maior gravidade da
dor, revelando que indivíduos fisicamente
inativos tinham aproximadamente o dobro de
chance de apresentar dor intensa. Problemas
de sono, uso de medicamentos para dormir e
histórico de tabagismo também mostraram
relação significativa com a dor, mas menos
expressiva.
Em conclusão,
o estudo destaca a inatividade física como o
principal fator agravante da dor crônica em
idosos. Os autores alertam para a
importância da mudança de comportamento e
adoção de estratégias públicas que estimulem
o envelhecimento ativo.
Referência:
Cortés RN, Montecinos CC, Bueno RL, Andersen
LL, Calatayud J. Physical inactivity is the
most important unhealthy lifestyle factor
for pain severity in older adults with pain:
A SHARE-based analysis of 27,528 cases from
28 countries. Musculoskeletal Science and
Practice. 2025;76 103270, ISSN 2468-7812.
Published 2025 Abr. doi: 10.1016/j.msksp.2025.103270. Escrito por Maria Vitória Abreu Cardoso de Jesus.
3. Uma programação à beira-mar pode aliviar a dor lombar crônica
Em 2023
pesquisadores sul-coreanos demonstraram que
uma programação terapêutica de práticas
integrativas e de contato com a natureza tem
eficácia no alívio da dor lombar crônica
inespecífica. A dor lombar crônica não
específica é uma dor localizada na região
lombar, presente nos últimos 6 meses, sem
uma doença associada como possível causa.
Estudos recentes mostraram a influência dos
aspectos psicossociais no agravamento da dor
lombar crônica. Por isso, os pesquisadores
investigaram os efeitos de uma abordagem
integrativa em participantes com dor lombar
inespecífica.
Os
voluntários, 46 participantes com dor lombar
inespecífica, foram recrutados no Centro
Médico e de Saúde do Condado de Taean e
divididos aleatoriamente em dois grupos. O
grupo experimental participou de uma
programação terapêutica durante quatro
noites e cinco dias, que combinava o uso de
compressas aquecidas, exercícios para core,
sessões de meditação e atividades turísticas
no ambiente costeiro. O grupo controle
realizou apenas exercícios para core
diariamente durante 50 minutos. Para
analisar os efeitos dos tratamentos, a
intensidade da dor foi avaliada por meio da
Escala Visual Analógica e o limiar de dor
foi mensurado com um algômetro digital.
Também foram analisados o tônus e rigidez
muscular, a incapacidade funcional e
sintomas depressivos. Ao final do período, o
grupo experimental apresentou melhora em
todos os parâmetros analisados, enquanto o
grupo controle demonstrou melhora apenas nos
níveis de dor.
O estudo
evidenciou que a programação terapêutica
integrativa reduz a dor lombar crônica, e
traz também benefícios funcionais e
emocionais. A proposta reforça a importância
de estratégias não farmacológicas,
acessíveis e sustentáveis, que incorporem
práticas de autocuidado, contato com a
natureza e promoção do bem-estar, para o
melhor manejo da dor.
Referência:
Baek JE, Kim SH, Shin HJ, Cho HY. Effect of
a Healing Program Using Marine Resources on
Reducing Pain and Improving Physical
Function in Patients with Non-Specific
Chronic Low Back Pain: A Randomized
Controlled Trial Study. Medicina (Kaunas).
2025;61(2):172. Published 2025 Jan 21. doi:10.3390/medicina61020172
Escrito por Maria Vitória Abreu Cardoso
de Jesus.
4. Além da dor - regulação emocional com terapia dialética on line
Um estudo
australiano recente revelou que a Terapia
Comportamental Dialética (iDBT Pain),
oferecida em sessões online coletivas e com
apoio de aplicativo, reduziu a desregulação
emocional em pessoas com dor crônica, de
modo mais efetivo do que o tratamento
habitual. Diferente da Terapia
Cognitivo-Comportamental, que foca
principalmente na reestruturação de
pensamentos disfuncionais, a iDBT-Pain
prioriza a aceitação emocional e o
desenvolvimento de habilidades práticas de
tolerância ao estresse e à dor,
especialmente em situações de alta carga
emocional.
Foi conduzido
um ensaio clínico randomizado com 89
adultos, realizado inteiramente online entre
março de 2023 e setembro de 2024. Metade dos
pacientes participaram de sessões em grupo
semanais por videoconferência, com 90
minutos de duração, além de utilizar um
aplicativo e um manual com atividades
práticas voltadas ao desenvolvimento de
habilidades emocionais. A outra metade
manteve apenas o acompanhamento clínico
padrão. Para avaliar os resultados, foram
aplicados dois questionários: Escala de
Dificuldades na Regulação Emocional (DERS-18)
e Lista de Verificação de Transtorno de
Estresse Pós-Traumático (PCL-5). O estudo
mostrou que a abordagem trouxe benefícios
que se estenderam além da regulação
emocional: houve também redução na
intensidade da dor, melhora em sintomas de
depressão, ansiedade, estresse, transtorno
de estresse pós-traumático (TEPT), sono e
bem-estar geral. Esses efeitos foram
observados após nove semanas de intervenção
e se mantiveram mesmo após 21 semanas.
Dessa forma, a
iDBT Pain trouxe inúmeros benefícios
clínicos, como melhora sustentada na
regulação emocional, redução da intensidade
da dor e bem-estar geral. Os resultados
reforçam que o desenvolvimento de
habilidades para lidar com estresse,
ansiedade e outros estados emocionais
negativos, torna a dor menos incapacitante.
Referência:
NORMAN-NOTT, Nell et al. Online Dialectical
Behavioral Therapy for Emotion Dysregulation
in People With Chronic Pain: A Randomized
Clinical Trial. JAMA Network Open, v. 8, n.
5, p. e256908-e256908, 2025.
Escrito por Karoline Cristina Jatobá da
Silva.
5. Ansiedade, depressão, enxaqueca e endometriose são principais comorbidades entre mulheres com dor pélvica crônica
Em mulheres com dor pélvica crônica (DPC), a ansiedade, depressão, enxaqueca e endometriose foram as comorbidades de maior prevalência. Um estudo brasileiro da Universidade Federal de Goiás, coletou dados de 246 mulheres entre maiode 2018 e agosto de 2021. Ele buscou avaliar a relação entre DPC e prevalência de comorbidades na amostra.
Trata-se de um estudo de caso-controle, com uma amostra composta por 123 mulheres com dor pélvica crônica (DPC) e 123 sem DPC (grupo controle). Nas entrevistas coletaram dados sociodemográficos, comportamentais e clínicos (como a idade, anos de estudo, uso do fumo e de bebidas alcoólicas). Analisaram também prontuários para verificar exame físico (endometriose) e exames de imagem. A ansiedade foi avaliada pela escala “Generalized Anxiety Disorder-7” (GAD-7) e a depressão pelo” Questionário de Saúde do Paciente de 9 itens (PHQ-9)”.
Ansiedade, depressão, enxaqueca e endometriose foram as comorbidades de maior prevalência na população analisada. Portanto, a partir dos dados, observa-se a importância de haver atenção à saúde mental em mulheres com DPC. Entre as limitações da pesquisa estão: a diferença entre a amostra e a população geral e a impossibilidade de identificar a relação causa-efeito por ser um estudo observacional caso-controle.
Referência: Alves DAMB, Souza N da SF, Borges Junior WS, Conde DM, Siqueira-Campos VM, Deus JM de. Prevalence and impact of comorbidities in women with chronic pelvic pain. BrJP. 2024;7:e20240026. doi:10.5935/2595-0118.20240026-en
Escrito por Júlia Paiva Fideles.
6. Estudo revela ação periférica do principal metabólito do paracetamol Cientistas de
Israel mostraram que o AM404, um metabólito
do paracetamol, reduz a dor ao inibir
diretamente canais de sódio nas terminações
nervosas periféricas. Até então,
acreditava-se que a ação analgésica do
paracetamol decorria apenas de ação no
sistema nervoso central. A descoberta foi
feita por pesquisadores que investigaram
como o AM404 atua sobre nociceptores
associados aos gânglios da raiz dorsal e
trigeminal, usando modelos animais e
celulares. O estudo, publicado em 2025,
ajuda a explicar por que o paracetamol
alivia a dor de forma diferente de outros
analgésicos.
No estudo,
foram usadas técnicas de eletrofisiologia,
testes comportamentais em animais e análises
moleculares. A aplicação periférica do AM404
reduziu a dor inflamatória nos animais, e
inibiu especificamente os canais de sódio
NaV1.7 e NaV1.8, fundamentais para a
transmissão do sinal doloroso. O estudo
também comprovou que esse metabólito é
produzido localmente nos nervos periféricos,
após a administração do paracetamol.
O estudo
revelou que o metabólito do paracetamol
AM404 induz analgesia e age no sistema
nervoso periférico inibindo canais de sódio
envolvidos na geração da dor. Esse novo
mecanismo amplia o entendimento sobre como o
paracetamol funciona.
Referência:
Maatuf Y, Kushnir Y, Nemirovski A, et al.
The analgesic paracetamol metabolite AM404
acts peripherally to directly inhibit sodium
channels. Proc Natl Acad Sci U S A.
2025;122(23):e2413811122. doi:10.1073/pnas.2413811122.
Escrito por Anna Beatriz Oliveira Cruz.
7. Variáveis de modelagem no desenvolvimento de biomarcadores de dor
Revisão sistemática realizada na Coreia do Sul, avaliou o efeito do uso de diferentes variáveis de modelagem no estudo de biomarcadores de dor baseados em neuroimagem. O estudo apontou que pesquisas que avaliam mais regiões cerebrais relacionadas à dor, que utilizam amostras maiores e que avaliaram mais dados durante as fases de teste ao invés das fases de treinamento, impactaram positivamente o desenvolvimento de biomarcadores da dor baseados em neuroimagem.
O estudo avaliou 57 artigos que incluíam modelos preditivos de dor baseados em neuroimagem e posteriormente conduziram análises de benchmark que usou dados de imagens de 124 ressonâncias magnéticas que envolviam um teste com dor induzida por estímulo térmico. Para o desenvolvimento de modelos preditivos, utilizaram a técnica de machine learning. Entre os dados mais focados pelos pesquisadores, foi apontado que a maioria dos estudos foi realizado em amostras populacionais (66,8%), com modelos de classificação binária (72,6%), modelos que avaliavam mais regiões do cérebro foram mais prevalentes (56%).
Por fim, a revisão sistemática indica que os níveis de dados, escalas espaciais e número das amostras foram determinantes importantes para a performance de classificações e predição. Números maiores de regiões cerebrais relacionadas à dor, amostras maiores e redução de avaliação de dados relacionados à fase de treinamento em contraste ao aumento da avaliação durante a fase de teste, foram apontados como úteis.
Referências: Lee DH, Lee S, Woo CW. Decoding pain: uncovering the factors that affect the performance of neuroimaging-based pain models. Pain. 2025;166(2):360-375. doi:10.1097/j.pain.0000000000003392
Escrito por Ana Carolina Teles Marçal.
8. Dor crônica preexistente não está associada a dor aguda moderada e grave após colecistectomia laparoscópica
Um estudo
avaliou criticamente os novos conceitos de
Transtorno de Sofrimento Corporal na 11ª
versão da Classificação Internacional de
Doenças (CID 11) e Transtorno de Sintomas
Somáticos da 5ª versão do Manual Diagnóstico
e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-5.
A nova conceituação traz mudanças na
definição da Fibromialgia. No entanto, o
debate sobre a classificação da dor crônica
generalizada como um distúrbio físico
(síndrome da fibromialgia) ou um transtorno
somatoforme existe há décadas, contudo, é
fundamental uma boa conceituação para
facilitar o processo de diagnóstico.
De acordo com
as antigas classificações a síndrome da
fibromialgia foi eliminada do capítulo de
doenças do sistema musculoesquelético e
agora está incluída no capítulo “Sintomas,
sinais, formas clínicas e achados clínicos e
laboratoriais anormais, não classificados em
outra parte”. Já a categoria de transtornos
somatoformes foi eliminada como uma
categoria diagnóstica no CID-11 e na DSM-5 e
foi substituída pelas novas categorias de
Transtorno de Sofrimento Corporal e
Transtorno de Sintomas Somáticos,
respectivamente.
Dessa forma,
de acordo com as mudanças é necessário para
o diagnóstico que exista pelo menos um
sintoma somático angustiante (por exemplo,
dor), somados a critérios
psicocomportamentais positivos, como
pensamentos, sentimentos ou comportamentos
excessivos relacionados aos sintomas
somáticos ou problemas de saúde associados,
sem a condição de que os sintomas somáticos
angustiantes tenham que ser clinicamente
inexplicáveis.
Em suma, os
autores argumentam que os critérios
psicocomportamentais do Transtorno de
Sofrimento Corporal e Transtorno de Sintomas
Somáticos são definidos de forma imprecisa e
podem ser mal interpretados como
“preocupações excessivas com a saúde”, o que
pode ocorrer devido às muitas incertezas que
cercam a Fibromialgia e seu diagnóstico.
Contudo, vale ressaltar que essas
“preocupações” podem estar relacionadas às
estratégias de autogerenciamento do
paciente. Assim, ainda é necessária uma
melhor discussão dessa taxonomia a fim de
encontrar maneiras de facilitar o
diagnóstico pelos profissionais, bem como a
recepção deste por parte dos pacientes.
Referência:
Häuser W, Fitzcharles MA, Henningsen P.
Fibromyalgia syndrome-a bodily distress
disorder/somatic symptom disorder?. Pain Rep.
2025;10(1):e1223. Published 2025 Jan 13. doi:10.1097/PR9.0000000000001223
Escrito por Milena Dias Oliveira.
9. Gel de dexametasona pode revolucionar o alívio da dor ciática
Um estudo
inédito randomizado, duplo-cego teve como
objetivo avaliar a resposta de pacientes com
dor lombar intervertebral com o uso de gel
viscoso injetável de dexametasona. O uso do
gel injetável experimental (SP-102) é
promissor: a aplicação local alivia a dor
imediatamente, sem exposição sistêmica. Até
o momento, não há tratamento específico para
essa condição, porém os resultados mostraram
que é seguro e pode proporcionar alívio da
dor por mais tempo para esse grupo.
A dor
radicular lombossacral, mais conhecida como
dor ciática, provoca alterações na rotina
dos indivíduos e como primeira linha é
indicado tratamentos conservadores com
tratamentos com corticosteroides orais,
anti-inflamatórios e fisioterapia. Porém,
quando elas não são eficazes, há a indicação
para intervenções com aplicação de injeções
epidurais de esteroides e eventualmente,
cirurgias. Diante da demanda de não existir
estudos rigorosos sobre o uso epidural,
tornou-se relevante a aprovação de um
medicamento seguro para esse uso.
O estudo foi
realizado em 2022 com participantes entre 18
e 70 anos que relataram dor entre 4 e 9 (de
uma escala de 0 a 10) na perna afetada que
fosse persistente ao longo de 12 horas por
pelo menos 6 semanas e não mais que 9 meses.
Dos 401 participantes, 59,4% eram mulheres,
a idade média foi 51 anos. Os participantes
foram divididos em dois grupos: 202 pessoas
receberam a injeção de dexametasona dose
única e 199 receberam uma injeção
intramuscular placebo simulada, todos
acompanhados por 24 semanas. Como resultado,
foi observado que aqueles que receberam o
gel, tiveram melhor alívio da dor.
O grupo que
recebeu placebo apresentou também melhora
dos níveis de dor, porém uma diferença
surpreendente entre o tempo para repetir a
injeção chamou atenção. Aqueles que
receberam placebo tiveram um intervalo em
média de 58 dias, enquanto o outro grupo,
suportou maior tempo, de 84 dias. Esses
resultados sugerem que o tratamento é
eficaz, seguro e promove uma boa duração
proporcionando melhor alívio da dor nas
pernas por maior período, assim reduzindo as
incapacidades associadas a essa queixa. Não
houve relato de eventos adversos graves
associados ao procedimento, alguns
participantes relataram cefaleia e dor
local, com incidência baixa.
Referência:
Miller A, Candido KD, Knezevic NN, et al. A
randomized, placebo-controlled trial of
long-acting dexamethasone viscous gel
delivered by transforaminal injection for
lumbosacral radicular pain. Pain.
2024;165(12):2762-2773. doi:10.1097/j.pain.0000000000003287
Escrito por Aline Frota Brito.
10. Manutenção das dimensões sensoriais e afetivas da dor neuropática crônica
Um estudo utilizou silenciamento quimogenético único e sustentado de neurônios que expressam o receptor opioide mu (MOR) da medula ventromedial rostral (RVM) RVM-MOR ou suas projeções espinhais para avaliar a possível contribuição da facilitação descendente para a expressão contínua da dor neuropática estabelecida. Nesse sentido, os resultados demonstraram que a atividade das células RVM-MOR projetadas espinhalmente é fundamental na expressão e manifestação das dimensões sensoriais e afetivas da dor neuropática estabelecida e na promoção da facilitação descendente que supera a inibição descendente aparentemente intacta para manter a dor crônica. A facilitação descendente aprimorada possivelmente regula o sinal de saída da medula espinhal ao cérebro para moldar a experiência da dor e pode fornecer um mecanismo para o gerenciamento não opioide da dor.
De forma geral, a dor neuropática crônica é uma condição debilitante que resulta em dor contínua acompanhada de hiperalgesia e alodinia. Em particular, neurônios na RVM demonstraram modular bidirecionalmente a nocicepção através de projeções descendentes para o corno dorsal da medula espinhal, permitindo a modulação dependente do contexto da dor. As classificações funcionais mostram que as células de facilitação da dor da RVM expressam o receptor mu opioide (MOR), enquanto as células inibitórias da dor expressam o receptor kappa opioide. Dessa forma, o desequilíbrio a favor da facilitação descendente líquida pode ser um mecanismo que promove e sustenta a dor crônica.
Nesse contexto, o estudo utilizou 34 camundongos machos, incluindo heterozigotos (MOR Cre) e camundongos selvagens (MOR WT) para análise de comportamentos de dor e controle descendente da nocicepção em resposta à inibição quimogenética aguda ou sustentada das células RVM-MOR expressando hM4D(Gi), após a ligadura parcial do nervo ciático (PSNL). Os animais que receberam Clozapina-N-óxido (CNO), um agonista hM4D(Gi) tiveram inibição reversível da alodinia tátil apenas em camundongos (MOR Cre) com PSNL. Os camundongos (MOR Cre-hM4D(Gi) com PSNL mostraram controle descendente diminuído da nocicepção que foi restaurado por CNO sistêmico. CNO antes da PSNL preveniu a expressão da dor crônica sem afetar a dor cirúrgica aguda; no entanto, o alívio da dor crônica exigiu tratamento sustentado com CNO.
Em virtude disso, o estudo revela que as células que expressam MOR modulam tanto os componentes sensoriais quanto os afetivos da dor neuropática. Esta é a primeira evidência direta de que neurônios que expressam MOR, considerados células ON, desempenham um papel no componente afetivo da dor neuropática.
Referências: Dogrul BN, Machado Kopruszinski C, Dolatyari Eslami M, et al. Descending facilitation from rostral ventromedial medulla mu opioid receptor-expressing neurons is necessary for maintenance of sensory and affective dimensions of chronic neuropathic pain. Pain. 2025;166(1):153-159. doi:10.1097/j.pain.0000000000003360 Escrito por Sabrina Teixeira da Silva. |