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Editorial do mês

 

 

Realidade virtual e o tratamento da dor no contexto hospitalar
Fabíola Maria Ferreira da Silva *

 

No mundo globalizado, a tecnologia e a inovação têm sido o maior ponto de transformação e investimento, apresentando grande impacto na ciência e principalmente no setor da Saúde. Nesse contexto, a Realidade Virtual (RV) emerge na década de 30, trazendo uma revolução no meio empresarial, educacional, científico e na Saúde, usando de técnicas e ferramentas em um ambiente tridimensional (3D) com intuito de transpor o usuário a uma interação no “mundo fictício”.

 

A RV na saúde se torna uma grande aliada na capacitação dos profissionais da área, e com o avanço da tecnologia começa a fazer parte dos tratamentos para pacientes com doenças crônicas, com deficiências e doenças neuropsicológicas. O que já se esperava foi a inserção da RV no ambiente hospitalar, sendo uma importante adjuvante no tratamento para reduzir a intensidade de dor, ansiedade e fobias. Posteriormente, também na reabilitação hospitalar, é considerada uma medida não farmacológica na melhora da função muscular e equilíbrio. Ela também auxilia na educação continuada da equipe, gerando impacto para aliviar os aspectos negativos da hospitalização.

 

Há mais de duas décadas, a dor vem sendo discutida como o quinto sinal vital, entendendo que é necessária ser analisada e tratada considerando sua diversidade e intensidade no ambiente hospitalar. Em um estudo na China em 2016, foram avaliados 2.293 pacientes, sendo que a incidência da dor em repouso foi de 57%, quadros de dor aguda 62% e dor crônica 37% dos casos. A dor se mostra mais comum nas unidades que envolvem cuidados perioperatórios e cuidados paliativos, com maior prevalência no sexo feminino. A avaliação e o tratamento intra-hospitalar apresentam desafios, demonstrando a importância de medidas multidisciplinares para o controle da dor.

 

O uso da RV no controle da dor parte do princípio de tirar a atenção consciente e transpor o paciente para o mundo 3D, minimizando a atenção dos sinais recebidos. Em uma revisão sistemática com metanálise, foi comprovado que o uso da RV melhorou significativamente a dor, fadiga e ansiedade, podendo ser eficaz na cognição, equilíbrio e mobilidade, sendo um excelente instrumento na reabilitação desses pacientes. Esse efeito ocorre por estímulos a nível cortical, influenciando pontos sensoriais no processamento associativo cerebral, gerando uma manipulação cognitiva no tronco cerebral modulando e levando a estabilidade autonômica.

 

A tecnologia da RV é uma intervenção eficaz e benéfica. Estudos trazem uma redução substancial de até 50% na necessidade de medicamentos opioides, nos quadros de dor, ansiedade, estresse pós-traumático e depressão, com impactos na morbidade, apresentando uma boa aceitabilidade e tolerância pelos pacientes.

 

Referências:

  • Peng LH, Jing JY, Qin PP, Su M. A Multi-centered cross-sectional study of disease burden of pain of inpatients in Southwest China. Chin Med J (Engl). 2016;129(8):936-41.

  • Lobo BB, Alcantara EC. Caracterização da dor em pacientes hospitalizados: revisão narrativa. BrJP. São Paulo, 2022 jul-set;5(3):258-64.

  • Spiegel B, Fuller G, Lopez M, Dupuy T, Noah B, Howard A, et al. (2019) Virtual reality for management of pain in hospitalized patients: A randomized comparative effectiveness trial. PLoS ONE 14(8): e0219115.

  • Keefe, F. J., Huling, D. A., Coggins, M. J., et al. (2012). Virtual reality for persistent pain: A new direction for behavioral pain management. Pain, 153(11), 2163-2166.

  • Hao J, Li Y, Swanson R, Chen Z, Siu KC. Effects of virtual reality on physical, cognitive, and psychological outcomes in cancer rehabilitation: a systematic review and meta-analysis. Support Care Cancer. 2023 Jan 12;31(2):112.

  • Araújo JL, Nitz D. Comitê de neurociências e tecnologias aplicadas à dor: Modulação da Dor com Realidade Virtual. SBED Vol. 04 N° 04 Out/Nov/Dez 2020


* Aluna de mestrado - UnB - disciplina da Pós-Graduação